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Gerenciamento de pacotes em Linux - como instalar coisas sem se perder no terminal

24 Novembro 2025
Visualizações: 221

Se você vem do Windows, está acostumado a baixar um .exe aleatório, dar “Next, Next, Finish” e torcer para que nada exploda. No Linux, o jogo é diferente (e bem mais elegante): quem manda são os gerenciadores de pacotes.

Pense neles como uma mistura de:

  • Loja de aplicativos
  • Sistema de atualização
  • Desinstalador

Tudo centralizado, com controle de versões, dependências e atualizações de segurança. Neste artigo vamos passear pelos três grandes “reinos” do Linux:

  • Família Debian/Ubuntuapt
  • Família Red Hat/Fedoradnf (e o veterano yum)
  • Família Archpacman

E ainda veremos como instalar pacotes “na unha” com dpkg e rpm.

A ideia é ser completo, mas com linguagem leve, sem exigir que você já seja um ninja do terminal.

Infografico sobre os Pacotes de Distros Linux
Infografico sobre os Pacotes de Distros Linux (clique para expandir)

1. Conceitos básicos (vale para todas as distros)

Antes de entrar em cada família, alguns conceitos que se repetem:

  • Pacote: arquivo que contém um programa, suas bibliotecas e metadados (versão, dependências, etc.).

    • No mundo Debian: .deb
    • No mundo Red Hat: .rpm
  • Repositório: servidor (ou conjunto de servidores) onde os pacotes ficam armazenados e assinados.
  • Gerenciador de pacotes: ferramental que:

    • Baixa pacotes dos repositórios
    • Resolve dependências
    • Instala, atualiza e remove
  • Root / sudo: mexer com pacotes mexe com o sistema; então, quase tudo exige sudo (ou entrar como root).

Quase todos os comandos abaixo começam com sudo. Se der algum erro de permissão sem sudo, não é você: é o sistema te protegendo.


2. Debian / Ubuntu (e derivados) – apt

Debian, Ubuntu  e seus Derivados
Debian, Ubuntu  e seus Derivados

Aqui entram:

  • Debian
  • Ubuntu
  • Linux Mint, Pop!_OS, Elementary OS, Zorin OS, etc. (são variações do mesmo time)

O gerenciador “amigável” da família é o apt (interface moderna para a base de baixo nível dpkg).

2.1. Atualizar lista de pacotes

sudo apt update
  • Pergunta para os repositórios: “o que você tem de novo?”
  • Não instala nada ainda; só atualiza a lista local.

2.2. Atualizar o sistema

sudo apt upgrade
  • Com base na lista atualizada, baixa e instala versões novas dos pacotes já instalados.
  • Normalmente pedirá confirmação (Y/N).

Se quiser ser agressivo e permitir mudanças de dependências (remover/substituir pacotes), alguns usam:

sudo apt full-upgrade

Mas para iniciantes, upgrade simples costuma ser suficiente.

2.3. Instalar um programa

sudo apt install nome-do-pacote

Exemplo:

sudo apt install vlc

O apt vai:

  1. Ver quem fornece vlc
  2. Baixar o pacote e dependências
  3. Instalar tudo na ordem correta

2.4. Remover um programa

sudo apt remove nome-do-pacote

Remove o programa, mas pode deixar arquivos de configuração.

Se quiser “limpeza pesada”:

sudo apt purge nome-do-pacote

Isso apaga também as configurações do pacote (útil quando você quer começar do zero).

2.5. Limpar dependências órfãs

sudo apt autoremove

Remove pacotes que foram instalados como dependência, mas hoje não são mais necessários. É o “faxineiro” oficial.

2.6. Procurar pacotes

apt search termo

Exemplo:

apt search editor de texto
apt search vlc

Mostra uma lista de pacotes cujo nome ou descrição bate com o termo.

2.7. Ver detalhes de um pacote

apt show nome-do-pacote

Exemplo:

apt show nginx

Você verá versão, descrição, dependências, tamanho, repositório, etc.


3. Red Hat / Fedora (e derivados) – dnf e yum

Red Hat, Fedora e seus Derivados
Red Hat, Fedora e seus Derivados

Aqui entram:

  • Fedora
  • Red Hat Enterprise Linux (RHEL)
  • CentOS Stream, Rocky Linux, AlmaLinux, etc.

O gerenciador moderno é o dnf. O velho yum ainda existe em muitos sistemas, mas, na prática, o comando yum costuma apontar para o dnf hoje em dia.

3.1. Atualizar lista de pacotes + sistema

No dnf, é muito comum combinar atualização de metadados e pacotes:

sudo dnf upgrade

ou, em algumas distros:

sudo dnf update

Na prática, upgrade e update são sinônimos em muitos sistemas, mas upgrade é o termo mais moderno.

3.2. Instalar um programa

sudo dnf install nome-do-pacote

Exemplo:

sudo dnf install vlc

Mesma lógica do apt: resolve dependências, baixa, instala.

3.3. Remover um programa

sudo dnf remove nome-do-pacote

Ou:

sudo dnf erase nome-do-pacote

Ambos removem o pacote e suas dependências que não forem mais necessárias.

3.4. Procurar pacotes

dnf search termo

Exemplo:

dnf search http server

Traz pacotes relacionados ao termo.

3.5. Ver informações detalhadas

dnf info nome-do-pacote

Exemplo:

dnf info nginx

Você verá versão, repositório, descrição, etc.

3.6. Limpar cache

sudo dnf clean all

Apaga metadados e pacotes baixados, economizando espaço. Depois disso, um novo dnf upgrade pode ser um pouco mais demorado, pois tudo será rebaixado.

Dica: se a sua distro ainda usa yum, os comandos são praticamente idênticos: troque dnf por yum e siga a mesma lógica.


4. Arch Linux (e derivados) – pacman

Arch Linux, Manjaro, e muitas outras coisas doidas...
Arch Linux, Manjaro, e muitas outras coisas doidas...

Agora, o reino dos aventureiros:

  • Arch Linux
  • Manjaro
  • EndeavourOS
  • Outras distros baseadas em Arch

Aqui, o gerente é o lendário pacman. Ele parece intimidador no começo, mas segue uma lógica bem clara.

4.1. Atualizar repositórios + sistema

No Arch, o “update geral” é:

sudo pacman -Syu

Significa:

  • -S → operações com pacotes do repositório
  • -y → atualizar lista de pacotes
  • -u → atualizar pacotes instalados

É o “tudo em um”: lista + atualização.

4.2. Instalar um pacote

sudo pacman -S nome-do-pacote

Exemplo:

sudo pacman -S firefox

O -S é de sync (sincronizar com os repositórios).

4.3. Remover um pacote

sudo pacman -R nome-do-pacote

Isso remove só o pacote em si.

Se você quiser remover também dependências não utilizadas e arquivos de configuração, usa-se:

sudo pacman -Rns nome-do-pacote
  • -n → remove arquivos de configuração
  • -s → remove dependências órfãs associadas

4.4. Procurar pacotes nos repositórios

pacman -Ss termo

Exemplo:

pacman -Ss editor de texto

Mostra pacotes disponíveis nos repositórios remotos.

4.5. Procurar pacotes já instalados

pacman -Qs termo

Exemplo:

pacman -Qs firefox

Mostra pacotes instalados que casam com o termo.

4.6. Ver informações de um pacote

Para pacote no repositório:

pacman -Si nome-do-pacote

Para pacote já instalado:

pacman -Qi nome-do-pacote

4.7. Limpar cache de pacotes

O Arch guarda um cache generoso em /var/cache/pacman/pkg. Para limpar:

  • Remover pacotes antigos, mantendo versões atuais:

    sudo pacman -Sc
    
  • Limpeza total (cuidado, é bem agressivo):

    sudo pacman -Scc
    

5. Instalando pacotes “na unha” – dpkg e rpm

DPKG, RPM, DEB, tudo na unha...
DPKG, RPM, DEB, tudo na unha...

Às vezes você baixa um .deb ou .rpm direto do site de um fornecedor (por exemplo, um software que não está nos repositórios oficiais). Nesses casos, entram os gerenciadores de baixo nível:

  • dpkg → mundo Debian/Ubuntu
  • rpm → mundo Red Hat/Fedora

Eles trabalham diretamente com o arquivo de pacote, sem buscar nada em repositórios.

5.1. Usando dpkg com arquivos .deb (Debian/Ubuntu)

Instalar um pacote .deb

sudo dpkg -i nome-do-arquivo.deb

Exemplo:

sudo dpkg -i google-chrome-stable_current_amd64.deb

O dpkg:

  • Descompacta o .deb
  • Instala os arquivos nos diretórios corretos

Atenção: se faltar alguma dependência, ele não resolve sozinho. Nesse caso:

sudo apt -f install

O -f é de fix (corrigir). O apt lê o “estrago” que o dpkg não conseguiu completar e tenta instalar as dependências faltantes.

Remover um pacote instalado via .deb

sudo dpkg -r nome-do-pacote

O “nome-do-pacote” é o nome interno, não o nome do arquivo .deb. Você pode descobrir com:

dpkg -l | grep parte-do-nome

Se quiser remover incluindo arquivos de configuração:

sudo dpkg -P nome-do-pacote

(-P de purge)

Ver informações de um .deb sem instalar

dpkg -I arquivo.deb

Mostra metadados (nome, versão, descrição).


5.2. Usando rpm com arquivos .rpm (Fedora, RHEL, etc.)

Instalar um .rpm

sudo rpm -i nome-do-arquivo.rpm
  • -i → instalar

Exemplo:

sudo rpm -i pacote-exemplo-1.0-1.x86_64.rpm

Assim como o dpkg, o rpm não resolve dependências automaticamente. Se faltar algo, ele vai reclamar.

Uma forma mais “inteligente” é usar o dnf para instalar o .rpm local:

sudo dnf install ./nome-do-arquivo.rpm

Aí o dnf faz o papel de resolver dependências por você.

Atualizar ou instalar (rpm -U)

sudo rpm -Uvh nome-do-arquivo.rpm
  • -Uupgrade (atualiza se já existir, instala se não existir)
  • -vverbose (mais detalhes)
  • -hhashes (barrinhas de progresso)

Remover um pacote

sudo rpm -e nome-do-pacote

De novo, aqui vai o nome do pacote, não do arquivo. Para descobrir:

rpm -qa | grep parte-do-nome
  • -q → query (consulta)
  • -a → all (todos)

Ver informações de um pacote instalado

rpm -qi nome-do-pacote
  • -q → consulta
  • -i → info

Listar arquivos de um pacote

rpm -ql nome-do-pacote

Mostra todos os arquivos que o pacote espalhou pelo sistema (ótimo para depuração).


6. “E o resto?” – Snap, Flatpak, AppImage, AUR…

Outros formatos...
Outros formatos...

Para não deixar passar, um comentário rápido:

  • Snap (Ubuntu) e Flatpak (mundo mais geral) são formatos de pacotes “containerizados”, com runtime próprio.
  • AppImage é um binário “portátil” que você baixa, dá permissão de execução e roda.
  • No mundo Arch, ainda há o AUR (Arch User Repository) com ferramentas como yay, paru etc., que automatizam compilação/empacotamento de software mantido pela comunidade.

Mas isso já rende outro artigo inteiro. Hoje o foco foi: gerenciadores de pacotes principais e as ferramentas de baixo nível.


7. Fechando a conta: o que você deve levar deste artigo

Se for para resumir tudo em poucas linhas:

  • Debian/Ubuntu e derivados → pense em apt para o dia a dia:

    • apt update → atualiza lista
    • apt upgrade → atualiza pacotes
    • apt install/remove/purge → gerencia programas
  • Red Hat/Fedora e derivados → use dnf:

    • dnf upgrade → atualiza
    • dnf install/remove → gerencia programas
  • Arch e derivados → o poderoso pacman:

    • pacman -Syu → atualiza tudo
    • pacman -S → instala
    • pacman -R / -Rns → remove
  • Pacotes baixados manualmente:

    • .debdpkg -i arquivo.deb (e, se der ruim, apt -f install)
    • .rpmrpm -i arquivo.rpm ou, de forma mais inteligente, dnf install ./arquivo.rpm

No fim, gerenciamento de pacotes em Linux é menos “mágica obscura” e mais um conjunto de receitas com nomes diferentes para famílias diferentes. Depois que você pega o jeito em uma delas, as outras ficam bem mais fáceis de entender.